segunda-feira, 2 de novembro de 2015

TEATRO - Oleanna - Uma lição a ser aprendida.

O texto de David Mamet, que o chamou de "uma peça sobre o poder", é mais do que isto. Levado às telas em 1994, e montado em diversos países, possui uma estrutura bastante refinada e muito inteligente. O confronto entre aluna e professor, ou professora, é extremamete atual e nos faz repensar sobre as atitudes "polticamente corretas". Muito mais do que isso também faz o espectador mais atento refletir sobre a função do ensino superior e a atualidade. Até que ponto cursar uma universidade, fazer um mestrado, um doutorado, não se tornaram apenas modismo se desviando totalmente da precípua função do ensino que é aprender e com isso transoformar a sociedade e o mundo com responsabilidade e coerência.
Em cartaz no Teatro Eva Herz, esta montagem traz a feliz ideia de intercalar entre um homem e uma mulher no papel do professor, mas seria muito mais rico se revezasse também a figura da aluna entre uma mulher e um homem. Não obstante trata-se de um espetáculo de extrema qualidade, dos poucos que encontramos nos palcos paulistas atualmente. As atrizes (nesta versão que assisti era uma professora) cumprem muito bem seu papel e conduzem o texto de forma verdadeira e precisa. Talvez falte um pouco de refinamento na direção da personagem da aluna, que poderia ser conduzida em determinados momentos de forma mais sutil, para que deixasse o público mais incerto sobre o seu real objetivo na trama.
De qualquer forma Oleanna é um espetáculo que DEVE ser visto por pais, alunos e professores, ou seja, por todos aqueles que gostam de um bom teatro e um bom texto. Esta Lição deve ser aprendida por todos!!!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"Três Dias de Chuva", um arco-íris na temporada teatral paulistana.



Autor consagrado de televisão e teatro, nos Estados Unidos, Richard Greenberg já foi indicdo duas vezes para o prêmio Pulitzer (um dos maiores da literatura). Em 2003, pelo texto "Take me Out" (sem tradução para o português) e, em 1998,  pela peça Três Dias de Chuva, que encontra-se atualmente em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo.
Protagonizada por Otávio Martins, Petrônio Gontijo e Adriane Galisteu, a peça estreou com Carolina Ferraz no papel feminino, agora substituída.
A peça se passa em 1995, quando três jovens, filhos de arquitetos, se reencontram para decidir sobre a herança do pai de um deles, e que rumo tomarão na vida. Este é o primeiro ato deta peça. (Sim, finalmente um espetáculo onde há dois atos, e que importam muito no desenrolar da trama, prendendo o espectador que se entretém com um bom espetáculo).
No segundo ato os atores tomam o lugar de seus pais, pois a ação se desenrola em 1960, trinta e cinco anos antes. Será através deste ato que as coisas ficarão claras para o espectador, e que importantes fatos serão desvendados.
Com uma direção segura de Jô Soares, uma ambientação primorosa e um cuidado extremo com a produção, o espetáculo torna-se uma grande surpresa nesta temporada teatral, e que não pode, e não deve, ficar esquecido, até pelo espectador menos avisado, aquele que não "gosta" de teatro.
Otávio Martins imprime personalidade na composição de suas duas personagens, mostrando um ótimo trabalho de ator na composição de Walker e Ned, preocupado mesmo com nuances e gestos característicos de cada personagem.
Petrônio Gontijo, um dos grandes atores da atualidade, também mostra toda sua competência na composição de Pip e Theo, personagens mais carismáticos, e por isso mais simpáticos ao público.
Adriane Galisteu já demonstrou ser uma boa atriz em diversos espetáculos, no entanto ainda parecia insegura na composição de Anna e Lina, talvez por ter sido justamente sua segunda apresentação no dia em que assistimos o espetáculo.
Some-se a tudo isso uma bela iluminação de Maneco Quinderé, um cuidadoso figurino com excelente trabalho de pesquisa de Fábio Namatame, cenário elegante e funcional de Marco Lima, além da deliciosa trilha musical assinada por Eduardo Queiróz e Ricardo Severo.
Com certeza um espetáculo que ficará na memória dos que o assistiram, como aquele delicioso dia de chuva em que nos sentimos confortáveis em nossos lares, com uma ótima companhia e distração.
Três Dias de Chuva traz uma "noite" ensolarada (pelo calor), e enluarada (pela magia) para os palcos. Muito bom ver que o Teatro ainda está vivo e feito com muita competência.

Carlos Eduardo Carneiro


FICHA TÉCNICA

  • Texto: Richard Greenberg
  • Direção: Jô Soares
  • Tradução e adaptação: Jô Soares
  • Assistente de direção: Carol Bastos
  • Desenho de Luz: Maneco Quinderé
  • Cenografia: Marco Lima
  • Música Original: Duda Queiros
  • Figurino: Fabio Namatame
  • Fotografia: Priscila Prade
  • Direção de Produção: Ed Júlio
  • Produção Executiva: Gabriel de Souza
  • Realização: Baobá Produções Artísticas
  • Elenco: Adriane Galisteu, Otávio Martins e Petrônio Gontijo

EM CARTAZ

  • De 26 de julho até 16 de dezembro.
  • Horários: Sextas-feiras às 21h30, sábados às 21h e domingos às 19h.
  • Ingressos: Sexta e Domingo R$ 60 | Sábado R$ 70
  • Vendas: 4003.1212 – www.ingressorapido.com.br

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Teatro com "Atores" Reparam nossas feridas teatrais, e como!!!




Pela segunda vez assisti a montagem de "O Fantástico Reparador de Feridas", espetáculo do irlandês Brian Friel, mesmo autor de Dançando em Lúnassa, em cartaz no Viga.

Na primeira vez a montagem, ganhadora do prêmio da Cultura Inglesa, apresentada pela mesma Cia. Lúdens,  foi apresentada em sua versão integral (duas horas mais ou menos), no teatro da instituição cultural em Pinheiros.

Desta vez o texto foi "enxugado" para 90 minutos. O tempo em um espetáculo teatral é muito relativo, pois um espetáculo longo pode passar rápidamente, enquanto um extremamente curto pode levar horas para o seu final. Desde sua primeira montagem era isso que surpreendia em "O Fantástico Reparador de Feridas", não obstante o excelente texto do autor irlandês, era um espetáculo que prescindia de verdadeiros atores.
Nesta montagem, mais enxuta, isso, mais uma vez, é mostrado ao espectador.

A história de um homem, Frank, que tem o dom de curar doentes. Dom este que lhe foge ao controle, e traz alguns problemas a Teddy, empresário de artistas exóticos e decadentes, que o empresaria, levando suas curas a diversas cidades do interior. Com eles viaja também Grace, advogada, filha de um aristocrata rural e que vive com Frank, abdicando de seu conforto paterno. O dom de Frank (Walter Breda) lhe atormenta a consciência, o que o faz se refugiar na bebida. Grace (Mariana Muniz) tenta entender este conflito, e se aproximar mais do homem amado. Teddy (Rubens Caribé) transita de um para o outro, tentando conciliar suas próprias emoções.

Uma das grandes curiosidades do texto de Brian Friel é a de que ele é apresentado de forma narrativo, pelas três personagens, que relatam, separadamente, a sua versão dos acontecimentos. O que possibilita ao espectador montar a história e refletir sobre as lacunas que nelas possam existir.

Este estilo narrativo, que tem se tornado bastante habitual, torna-se um grande desafio para os atores, pois ele necessita de verdadeiros atores para que a história seja contada, bem contada.

Walter Breda, Mariana Muniz e Rubens Caribé cumprem sua tarefa com extrema competência.
Breda, um dos nossos grandes atores de teatro, conseguiu compor um Frank que envolve, argumenta e é fiel a suas crenças. Desta vez, o autor está completamente entregue à personagem, o que não acontecia efetivamente na montagem de 2009.

Mariana Muniz faz de sua Grace uma mulher sensível e forte, com gestos precisos e limpos, mas que ainda necessitam de um pouco mais de emoção, ou talvez uma "pitada" de entusiasmo para que ela reivindique sua posição como mulher, esposa, e mãe. O crescimento da atriz desde sua primeira montagem é nítido e surpreendente.

Rubens Caribé imprime em Teddy uma personalidade empática, alegre e confiante. Ele, Caribé, mostra que esta personagem o por que de ser um dos grandes atores de sua geração, infelizmente não muito celebrado pelo grande público. Desde a primeira montagem, Caribé nos proporciona uma criação exata deste empresário, com cores que cativam e mostram a verdadeira face de um grande ator, sou confronto vencedor com a palavra e a emoção. Na montagem de 2009 parece que Teddy tinha uma alegria maior do que a desta temporada, que agradava e dava um respiro para o final do espetáculo. Talvez porque houvesse uma dissonância com as outras personagens.

De forma geral, todos os três tem uma atuação perfeita, que só verdadeiros Atores, poderiam realizar, revelando ao público o que é realmente atuar, levar os sonhos ao palco.

Apesar do encurtamento da peça, e movimentação de elementos cênicos para o momento de cada uma das personagens, o espaço se torna muito grande para a encenação. Talvez se devesse dar mais atenção a iluminação que necessita fazer parte do espetáculo como personagem, quem sabe como uma forma de fio condutor que liga cenicamente as personagens.


Enfim, "O Fantástico Reparador de  Feridas" é, felizmente, uma grata experiência que nos faz acreditar que o Teatro de Atores ainda não morreu, e o que se necessita para que ele sempre ressurja é um pouco de talento e muito trabalho, trabalho, trabalho, trabalho e DEDICAÇÃO.

Carlos Eduardo Carneiro


FICHA TÉCNICA:
AUTOR: Brian Friel
TRADUÇÃO E DIREÇÃO: Domingos Nunez
COLABORAÇÃO EM PORTUGUÊS: Julio Cesar Pompeo
ELENCO: Walter Breda (Frank), Mariana Muniz(Grace), Rubens Caribé (Teddy)
PRODUTORA ASSOCIADA: Beatriz Kopschitz Bastos
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Julio Cesar Pompeo
CENOGRAFIA: Cia Ludens
FIGURINOS: Chico Cardoso
ILUMINAÇÃO: Aline Santini
TRILHA SONORA ORIGINAL: Ricardo Severo
OPERAÇÃO DE SOM E LUZ: Luz López
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Fabio Camara
FOTOS: Rodrigo Hypolitho
PROGRAMAÇÃO VISUAL: Hiro Okita
LOCAL: Centro Internacional de Teatro, ECUM. Rua da Consolação, 1623 – Consolação. Sala 1 (134 lugares). Estacionamento conveniado.
DATA: 10 de julho a 08 de agosto, quartas e quintas às 21h. 
INGRESSOS: R$ 40,00
INFORMAÇÕES: (11) 3255 5922
DURAÇÃO: 90 minutos
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos

terça-feira, 16 de abril de 2013

Notas sobre um (O) Casamento.


Não há o que se falar sobre a genialidade do grande dramaturgo, e cronista, Nelson Rodrigues, o qual teria completado 100 anos no último ano. Em função desta celebração, muitas de suas peças foram remontadas no teatro, toda sua obra relançada nas livrarias. Entre elas foi o caso de seu único romance, lançado com estrondoso sucesso em 1966 por encomenda de Carlos Lacerda, que havia aberto a editora Nova Fronteira. Lançado, e caçado no próprio ano pelo então ministro da Justiça Castelo Branco, por ser um "atentado contra a organização da família". Um romance com todos os ingredientes das histórias do escritor, que poderia ter continuado nesta seara não fosse o referido ato de censura  e a morte de seu pai, Mario Rodrigues, terem ocorrido à mesma época.

Relançado agora, frente às comemorações de seu centenário de nascimento, "O Casamento" ganhou também uma adaptação para o teatro, pelas mãos da diretora Johana Albuquerque, responsável também pela dramaturgia.

Adaptações, sejam elas para o teatro, cinema, ou televisão, apesar de sempre bem vindas, são de fato tarefas extremamente difíceis, uma vez que cada um desses veículos possui linguagem própria, e diferente, daquela utilizada na literatura, podendo resultar em produtos de qualidade duvidosa  e algumas vezes comprometendo até o autor, quando o público não conhece seu original, ou outras de suas obras.

Para esta montagem  se uniram dois grupos teatrais, a Bendita Trupe, capitaneada por Johana Albuquerque, e o Teatro Promíscuo, liderado pelo experiente Renato Borghi.

Conduzida em seu início de forma a nos levar ao universo de Nelson Rodrigues, e suas personagens polêmicas, o espetáculo peca principalmente pela frágil adaptação, fazendo com que a riqueza destas personagens não seja claramente esmiuçadas, uma vez que a história de um livro de praticamente 350 páginas deve ser apresentada num espetáculo de 2 horas (e foram mais). Dessa forma, a vitalidade da linguagem do autor, a crítica à uma sociedade hipócrita ficam enfraquecidas ao serem levadas à cena.

Renato Borghi, no papel de Dr. Sabino, não mostra toda a ousadia que um ator de sua experiência poderia revelar nesta personagem, cheia de nuances e contradições, o que é uma pena. Daniel Alvim, como Antonio Carlos e Teófilo (o homosexual) poderia trabalhar com a contenção, no entanto parte para o histrionismo.

Elcio Nogueira Seixas compõe muito bem a figura de Dr. Camarinha, não tendo tanto sucesso, porém, em sua composição de Zé Honório. Maurício de Barros se comporta bem como Xavier, mas carrega muito ao interpretar o Monsenhor, que no livro, pode até ser considerada a personagem mais livre de repressões severas, um paradoxo plausível e divertido, tratando-se de Nelson Rodrigues.

A grande surpresa da montagem fica por conta das atrizes, tendo em Diana Bouth uma Glorinha extremamente rodriguiana, Vera Bonilha como a amiga Maria Inês, a divertida mãe D. Eudoxia e a torturada esposa de Xavier. Regina França se sai muito bem em sua Noêmia, pena que a adaptação não lhe favorece mais momentos para que ela explore mais sua personagem, assim como é o caso de Eudoxia.

Johana Albuquerque assina uma direção em que há momentos muito criativos e que mostram o cuidado com a encenação, como a cena da festa logo no início do espetáculo, e aquela, que transpira o universo de Nelson em que estão Maria Inês, Gloriha e Antonio Carlos.

Impecáveis figurinos de Simone Mina que soube muito bem ambientar o elenco em meados dos anos 60, com muita criatividade e estilo. André Cortez consegue leveza, mistério e luxúria com seu cenário funcional utilizando tecidos. Bela trilha sonora de Pedro Bierenbaum e correta iluminação de Paulo Cesar Medeiros.

Não fosse prejudicado pelo andamento da adaptação, e um trabalho mais artesanal com alguns dos atores, O Casamento poderia ser celebrado como um dos acontecimentos da temporada, talvez tenha tido muito arroz de festa.

Serviço


Gênero
Comédia
Temporada
de 13 de abril a 30 de junho de 2013
Sextas e sábado às 21h30 e domingo às 18h
130 minutos
Indicação de faixa etária
16 anos
Local
TUCA – Teatro da PUC-SPRua Monte Alegre, 1024 – Perdizes - São Paulo - SP
Capacidade
672 lugares
Acesso para pessoas com deficiência
Ingressos
Sexta R$ 50.Sábado e Domingo R$ 60(Desconto de 50% para Estudantes, Maiores de 60 anos, Aposentados, Professores da Rede Pública Estadual e Classe Artística com DRT)Preço especial PUC-SP(Para estudantes, professores e funcionários da PUC sob comprovação - número de ingressos limitado a 10% da lotação do teatro - compra somente na bilheteria do teatro)VendasPela Internet: www.ingressorapido.com.br Central de Vendas: (11) 4003-1212(aceita todos os cartões de crédito)Horários de funcionamento da bilheteria:De terça-feira à domingo das 14h00 às 20h00.Formas de Pagamento:Amex, Aura, Diners, Dinheiro, Hipercard,Mastercard, Redeshop, Visa e Visa Electron.
Estacionamento conveniado:
Pier Park Estacionamentos - Rua Monte Alegre, 835 - R$15,00 - Tel.: (11) 3120-5052 (Valor válido somente mediante a apresentação de ingressos das peças em cartaz no TUCA)


sábado, 6 de abril de 2013

Pelos olhos de Bette Davis, e pelos meus.......


Bette Davis, não restam dúvidas, foi uma das grandes atrizes de Hollywood, uma verdadeira estrela. Tida como malvada, um erro devido ao filme de mesmo nome, onde Anne Baxter era a atriz cuja personagem se referia o titulo do filme, no entanto o carisma e talento de Bette sempre roubou a cena.
Justa homenagem esta de se fazer uma peça onde se fale um pouco da grande estrela e a faça presente na vida de muitos que não a conheceram e, talvez, só tenham ouvido o nome quando lembrado na música de Kim Carnes "Bette Davis Eyes", fazendo alusão aos olhos da atriz que eram sua marca registrada.
Bette Davis & Eu (originalmente "Me and Jezebel"), de Elizabeth Fuller, nos conta a história, verídica, do enconro da escritora com este ídolo do cinema, e sua convivência por alguns dias.....
A história contada é interessante, porém um pouco cansativa e repetitiva quanto as situações apresentadas, principalmente no que diz respeito a presença de outras personagens falando através de Elizabeth, como se estivessem ali presentes. Além do fato de interromper o ritmo da ação, tal artifício demanda um grande trabalho interpretativo de quem o faz, para que possa diferenciar muito bem cada personagem. Flávia Garrafa, como Elizabeth Fuller, mostra-se uma figura empática, mas que carece de mais energia e recursos para mostrar todas estas personagens que lhe cabem. É nítido o esforço e dedicação da atriz, mas nota-se, talvez, a falta de uma direção mais elaborada para que ela alcançasse este objetivo, pois já demonstrou ,em outros espetáculos, sua incrível veia cômica.
Reticente quanto a interpretação de papeis femininos por homens (e vice-versa), com o receio de se cair no estereótipo mais banal, a composição de Wilson de Santos (Bette Davis) surpreende, e muito!! O artista tem o tom certo da personagem não caindo, em nenhum momento, no lugar comum fazendo com que  a energia e personalidade da grande estrela se materialize no palco. Um trabalho difícil realizado com muita classe.
Claro é o jogo teatral estabelecido por Flavia e Wilson, completamente cúmplices em suas ações, mostrando que isso é ponto fundamental para que o Teatro aconteça.
Alguns descuidos com os objetos de cena poderiam ser melhor solucionados, para deixar mais limpa a cena, que tem um belo e funcional cenário de Theodoro Cochrane, e um belíssimo figurino do talentoso Fábio Namatame.
Alexandre Reinecke, na direção, poderia ter se dedicado mais nas características das personagens criadas por Flavia Garrafa, além de pequenos detalhes que um texto como este exige na sua apresentação (o caso de Bette não trazer nada quando chega sendo que sua interlocutora diz que ela chegou trazendo algumas balas, ou doces).
De qualquer modo um espetáculo que deve ser visto principalmente por relembrar esta grande diva do cinema e mostrar, como já disse, a cumplicidade e grande trabalho de dois atores da atualidade.
Tudo isso pelos olhos de Bette Davis.

Serviço

Bette Davis e Eu

Alameda Santos, 2233
Jardins - São Paulo - SP
(11) 2122-4070
Temporada
Temporada
5 de Abril à 7 de Julho de 2013.
Horário
Horário
Sexta 21:30h | Sábado 21h | Domingo 18h
Gênero
Gênero
Comédia
Preço
Preço
R$ 70,00
Não recomendado para menores de 12 anos.
Classificação
Não recomendado para menores de 12 anos.

domingo, 31 de março de 2013

QUASE NORMAL? Não, Quase REAL!!!!!



 Uma surpreendente realização é a primeira coisa que se pode dizer do espetáculo Quase Normal, de Brian Yorkey e Tom Kitt. Tendo como um tema um assunto de difícil digestão, a depressão elevada ao grau de bipolaridade, e ainda apresentado de forma musical, QUASE NORMAL tem da difícil tarefa de entreter e conquistar o público, principalmente concorrendo com outros espetáculos do mesmo gênero (musical) mas com mais apelo comercial. Difícil tarefa mas ele consegue, e muito bem.
Ancorado no texto de Brian Yorkey, a história de uma dona de casa bipolar, revela-se mais comum do que possamos imaginar nos dias de hoje, fazendo com que o espectador se identifique com a protagonista (mais vezes do que possamos imaginar) ou com um de seus familiares.  Um texto delicado que sabe mostrar as duas faces da moeda sem cair no melodramático, ou no lugar comum, apresentando apenas uma falha, a meu ver , de concepção na figura do filho, Gabriel, que em alguns momentos chega a dar a impressão, errônea, de um espírito obsessor. Clara é  idéia de uma lembrança obsessora, mas da forma como é conduzida pode levar a um outro tipo de personagem, mais afeito a peças que discutem a espiritualidade.
Grande trunfo desta montagem ancora-se nas interpretações reveladoras de Carol Futuro, que nos apresenta uma Natalie com muita sensibilidade e talento, sem contar a capacidade vocal e afinação. Ela está muito bem acompanhada de Cristiano Gualda  que interpreta Dan, o pai, que aos poucos evolui em sua interpretação arrebatando o público com sua concepção emocionada da personagem e uma voz que sabe ser colocada, e modulada, de acordo com os momentos pedidos pela sua personagem.
Vanessa Gerbeli, no papel de Diana, é um furacão de emoção. Sendo uma atriz de grade carga emocional e energia cênica, muitas vezes deixa-se levar por ela, em momentos que poderia descobrir em sua Diana sutilezas que lhe são peculiares. Mas nada disso atrapalha a impressionante composição que faz da personagem, são detalhes apenas que poderia aperfeiço
ar sua interpretação, e que pode ser algo a ser pensado quanto ao controle de toda esta energia intepretativa que a atriz possui, e que poderá ser canalizada em seu próprio benefício.
Um espetáculo musicalmente difícil, com melodias sofisticadas que dependem muito da interpretação e segurança musical dos atores, que o fazem de forma exemplar.
Victor Maia no papel de Henry, com uma bela voz, consegue uma empatia com o público, e realiza um trabalho correto, mas percebe-se que tem muito mais para dar a sua personagem, e que poderia deixar alguns "exageros" interpretativos, desnecessários para a composição da personagem. Isso se dá pelo excesso de preocupação em deixar com que as jovens personagens pareçam pais jovens do que são os atores, como o texto manda, porém isso provoca um artificialismo exagerado, principalmente na personagem do filho. Isto, felizmente, não acontece com a personagem de Nathalie (Carol Futuro) que sabe bem dosar e aplicar seu tipo físico (atitudes) à personagem.
André Dias, empresta sua bela voz ao papel do psiquiatra, faz um trabalho correto, o que se espera desta difícil personagem, que poderia cair no exagero de um profissional manipulador, o que felizmente não acontece.
A direção de Tadeu Aguiar poderia ser mais criativa, todavia não compromete o andamento do espetáculo, apesar de algumas falhas de marcação. Vale ressaltar o bom gosto e competência do mesmo Tadeu na tradução, e versnao,  das músicas do espetáculo, bem como sua ousadia em produzi-lo, sendo um tema de difícil digestão para nosso público, principalmente quando se trata de um musical.
Ney Madeira é muito feliz em seu figurino, que cumpre seu papel de "vestir" com bom gosto as personagens, sem querer apesar mais do que elas.
Um adequado e funcional cenário de Edward Montanheiro.
Destaque também para a excelente banda que se apresenta e a qualidade de som apresentada, que em nenhum momento interfere no espetáculo.
Quase Normal, é um musical que deveria ser obrigatório para todas as pessoas, dado a sua extrema atualidade e direcinamento deste gênero de espetáculo que ancora–se sobremaneira na interpretação dos atores que, felizmente, tem ótimos representantes nas figuras de Vanessa Gerbelli, Carol Futuro e Cristiano Gualda, poderia se dizer que é Quase Excepcional!!!

Serviço

Quase Normal
Quando: de 21 de fevereiro a 12 de maio
Quinta e sexta às 21h; sábado às 18h e 21h30; domingo às 18h
Onde: Teatro Faap -Rua Alagoas, 903, Higienópolis
Quanto: R$ 80 (quinta e sexta) e R$ 100 (sábado e domingo)
Vendas:
- telefone: (11) 3662 7233 e 3662 7234
- bilheteria da casa: de quarta à sábado, das 14h às 20h. Domingo das 14h às 17h
Aceita cartão de débito e crédito: Visa, Máster ou Dinners. Não aceita cheque
Estacionamento gratuito, com vagas limitadas
Acesso para deficiente. Ar-condicionado
Capacidade:500 lugares
Duração: 120 minutos, com intervalo de 15 minutos
Classificação: 14 anos
Mais informações: (11) 3662 7233 e 3662 7234


quarta-feira, 20 de março de 2013

Para fazer parte deste FÃ-CLUBE


Dentre as, raras, boas surpresa que se encontram nos palcos de São Paulo, podemos destacar o espetáculo "Fã-Clube", com dramaturgia de Keli Freitas, realizado pelo grupo carioca Cia. Físico de Teatro, que já esteve por aqui com o texto "Savana Glacial", do excelente dramaturgo Jô Bilac.

No espaço alternativo do SESC Consolação (sala Beta), assistimos a história de dois fãs que decidem sequestrar sua "ídola", uma estrela de teatro.  A partir daí, desenrola-se toda a trama que envolve capturadores e capturada, e a relação que se estabelece entre eles.

O texto peca em não deixar claro muitas passagens, que poderiam ser melhor exploradas, e aprofundadas. Muito interessante a forma como a relação das três personagens é mostrada, principalmente na forma apresentada intercalando passado, presente, deixando com que o espectador reflita sobre a influência do tempo no jogo dos três atores. Dentre os quais se destaca o trabalho de Igor Angelkorte, o sequestrador loiro, que cria uma personagem comum ao nosso cotidiano. Contrariamente, Renato Livera, que também dirige o espetáculo (e talvez por isso fique dividido) imprime em seu sequestrador uma personalidade caricata, que funcionaria melhor sem este recurso. Camila Gama tem uma postura firme fisicamente, mas sua personagem carece de um carisma estelar, uma vez que, apesar da sinopse apresentá-la como uma atriz desconhecida, nos faz pensar em  uma grande atriz de teatro. Caso contrário, seria, talvez, o caso de deixar mais claro no texto o desconhecimento desta atriz.

Renato Livera, contrariamente a sua atuação, nos mostra uma direção limpa, correta, sem grandes artifícios, que conduz muito bem o trabalho físico dos atores (impecavelmente), devendo apenas ter dado um pouco mais de atenção as nuances de suas personalidades.

Excelente a precisão dos movimentos com os sons realizados na sonoplastia, bem como a deliciosa trilha sonora (Jamba). Um cenário simples, eficaz e de muito bom gosto de André Sanches nos transporta ao cativeiro desta atriz "aprisionada".

Figurinos(Bruno Perlatto) e iluminação (Renato Machado) no tom certo, e tudo num clima que nos remete aos filmes de Tarantino.

De qualquer forma, não há como não sair deste espetáculo sem ter vontade de assistir outra montagem deste grupo, que caminha artesanalmente, e com consciência, deste fazer teatral.

Serviço

Fã-Clube
Sesc Consolação
Rua Doutor Vila Nova, 245 - Consolação
Tel.: (11) 3234-3000
Quinta e sexta, às 21h
Espetáculo não recomendado para menores de 14 anos
Em cartaz até 26/4/2013